A vida íntima da mulher passa por transformações profundas ao longo dos anos, e com o envelhecimento, essas mudanças ganham contornos que vão muito além do corpo. Viver a maturidade com plenitude inclui também reconhecer e valorizar a própria sexualidade.
Conforme os hormônios se reorganizam e o corpo responde de maneira diferente, surgem novas demandas, sensações e até desafios. A libido pode diminuir, o ressecamento vaginal pode se tornar uma constante, e a resposta ao toque já não é a mesma.
Mas isso não significa perda. Significa redescoberta. Cada mulher atravessa esse momento à sua maneira, e compreender que o prazer e a intimidade continuam possíveis e desejáveis, é um passo importante.
A forma como a mulher se vê também muda. O olhar no espelho pode carregar marcas do tempo, mas traz também a expressão de tantas histórias vividas, aprendizados, afetos.
A sensualidade deixa de estar atrelada apenas à juventude e passa a habitar gestos, palavras, atitudes. É potente, é viva. E merece ser celebrada.
Grande parte da nossa desconexão com o próprio corpo vem de construções socioculturais que atravessaram séculos, moldando crenças, silêncios e tabus em torno da sexualidade feminina.
Fomos ensinadas a não tocar, não explorar, não falar. A intimidade virou terreno proibido e, muitas vezes, motivo de culpa ou vergonha.
Como mostra a historiadora Mary Del Priore, durante muito tempo “à mulher foi negado o direito ao prazer e ao conhecimento de si. Suas vaginas atendiam ao propósito divino de reproduzir”.
Os desejos femininos foram silenciados, e o corpo da mulher passou a ser visto como instrumento de dever, não de expressão pessoal.
Romper com essas barreiras é um processo libertador e necessário, já que uma vida sexual saudável influencia diretamente na longevidade.
Especialistas destacam que o bem-estar íntimo pode contribuir na prevenção de doenças como osteoporose, depressão e problemas cardiovasculares.
Segundo um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais de 60% da população acima dos 80 anos é composta por mulheres, e cerca de 41% das mulheres idosas vivem sozinhas ou são viúvas — o que reforça a importância de abordar a sexualidade feminina com mais atenção e cuidado nessa fase da vida.
E como bem diz Mirian Goldenberg, pesquisadora da velhice e da sexualidade feminina: “Nunca fui tão livre, nunca fui tão feliz. É o melhor momento de toda a minha vida. É a primeira vez que eu posso ser eu mesma”.
Essa frase ecoa o sentimento de muitas mulheres que, ao se libertarem de padrões e expectativas, encontram na maturidade um espaço de potência e verdade.
Nos relacionamentos, a comunicação se torna ainda mais essencial. Falar sobre os sentimentos, desejos e medos abre caminhos para conexões mais autênticas. A intimidade vai muito além do físico — ela se constrói com presença, escuta e entrega.
Buscar orientação médica é fundamental. Ginecologistas e terapeutas têm um papel importante nesse processo, oferecendo alternativas para lidar com desconfortos, prevenindo condições comuns da maturidade e apoiando emocionalmente essa nova etapa.
Produtos para o conforto íntimo (lubrificantes, hidratantes vaginais, sex toys), terapias hormonais, surgem como aliados na jornada da mulher que deseja manter sua vida íntima ativa e satisfatória.
Existem, sim, novas possibilidades de prazer. E elas não estão só nos métodos ou técnicas, mas no espaço emocional e na liberdade que a maturidade traz.
A mulher que se permite conhecer e explorar seu corpo, respeitar seu ritmo e se abrir para novas experiências, apreciando muitas vezes até mais a jornada de prazer do que a necessidade do orgasmo a qualquer custo, encontra uma sexualidade mais leve, mais verdadeira e muitas vezes, mais rica do que em outras fases da vida.
Envelhecer, definitivamente não é sinônimo de retração, e sim de expansão. Porque envelhecer é um privilégio e viver a intimidade com consciência, prazer e respeito é uma escolha que merece ser abraçada por todas nós.
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source https://boaforma.abril.com.br/coluna/sexualidade-positiva/prazer-na-maturidade-feminina/
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